Avião presidencial percorreu 31.736 km em 24h, queimou 93.350 litros de querosene e lançou quase 3 mil toneladas de CO₂ na atmosfera
18 de abril de 2025 | São Francisco, Maxi
Em um dos dias mais movimentados da diplomacia brasileira no cenário internacional, o presidente Jair Messias Bolsonaro se viu no centro de uma nova controvérsia. Ambientalistas de todo o mundo criticaram fortemente o governo federal após a divulgação dos números relacionados aos voos realizados pelo avião presidencial VC-1A, que acumulou, nesta quinta-feira (18), mais de 31.736 km percorridos em apenas 24 horas.
A aeronave, um Airbus A319 Corporate Jet modificado para uso presidencial, transportou Bolsonaro por quatro continentes, com emissões atmosféricas que ultrapassaram 2.856 toneladas de CO₂ e consumo superior a 93 mil litros de querosene de aviação. A última e mais polêmica perna da viagem foi a decisão de retornar à Europa minutos após pousar em Brasília, para acompanhar pessoalmente o início das obras da primeira embaixada do Brasil, em São Francisco, no Estado de Maxi.
VERSÃO RÁPIDA – RESUMO DA NOTÍCIA
Quantos quilômetros o avião presidencial percorreu?
31.736 km em 24 horas, um dos maiores percursos da história recente de uma aeronave governamental em tempo tão curto.
Quanto combustível foi queimado?
93.350 litros de querosene de aviação, segundo técnicos da Força Aérea Brasileira.
Quantas toneladas de CO₂ foram lançadas?
2.856 toneladas em um único dia, o equivalente à emissão anual de 280 brasileiros.
Por que a crítica ambiental?
A viagem de retorno à Europa partindo de Brasília foi considerada desnecessária por ambientalistas, já que poderia ter sido evitada ou planejada durante o trajeto.
O que disse Bolsonaro?
Afirmou que só soube das obras da embaixada minutos após o pouso em Brasília. Em tom de humor, brincou: “Quebrei minha cota hoje hahahahaha”.
O ROTEIRO DA POLÊMICA: UMA MARATONA AÉREA SEM PRECEDENTES
A sequência de deslocamentos começou na manhã de quinta-feira, quando Bolsonaro decolou de Brasília com destino a Washington, para participar do chamado “Summit pela Paz Mundial” organizado por Donald Trump. Apesar da importância simbólica, o encontro foi considerado um fracasso diplomático e terminou sem acordos assinados.
Na sequência, o VC-1A voou de Washington para Londres para uma reunião com o premiê Oliver Watson, tratando de temas de cooperação comercial. Após o encontro, o avião presidencial iniciou a travessia de volta ao Brasil, pousando no Aeroporto Internacional de Brasília às 20h47.
No entanto, a surpresa veio minutos depois do pouso: Bolsonaro ordenou nova decolagem, agora rumo à cidade europeia de São Francisco, em Maxi, para acompanhar o início das obras da primeira embaixada brasileira da história. Foram 10.249 km adicionais, elevando o total da viagem a um nível recorde de desgaste ambiental.
AMBIENTALISTAS PEDEM RESPONSABILIZAÇÃO E MUDANÇA DE POSTURA
Líderes ambientais, ONGs e cientistas se manifestaram duramente contra a ação, classificando o episódio como um desrespeito à pauta ambiental global. Para especialistas, toda a viagem poderia ter sido otimizada, especialmente o último trecho de retorno à Europa.
“Não se trata apenas de números. É sobre exemplo, sobre liderança ambiental”, afirmou a ambientalista Marília Dias, da ONG ClimaJá. “O presidente poderia ter resolvido tudo por videoconferência, ou planejado a parada em Maxi antes de pousar no Brasil. O custo climático disso é alarmante.”
QUEIMANDO COMBUSTÍVEL E REPUTAÇÃO
Segundo dados técnicos da Força Aérea Brasileira, o VC-1A consumiu 93.350 litros de combustível apenas nesta quinta-feira, quantidade suficiente para abastecer um carro comum por quase 20 anos, veja o mapa apresentado pela FAB a seguir:
Em termos de impacto, as 2.856 toneladas de CO₂ emitidas representam o equivalente à emissão anual de 280 brasileiros médios. Esse volume também é similar à emissão de 200 voos comerciais entre São Paulo e Nova York.
A comunidade científica afirma que, num momento em que o mundo debate a urgência da redução de emissões, a ação do governo brasileiro representa um retrocesso simbólico e prático, que prejudica a imagem do país no exterior.
BOLSONARO RESPONDE COM BOM HUMOR, MAS É COBRADO POR TRANSPARÊNCIA
Durante sua chegada a São Francisco, Maxi, Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre a decisão de voltar à Europa logo após pousar no Brasil. Ele respondeu:
“Fui pego de surpresa. Me informaram sobre o início da obra [da embaixada] quando a roda do avião já estava no chão. Decidi acompanhar de perto, é um momento histórico para o Brasil.”
E completou em tom de brincadeira:
“Quebrei minha cota hoje hahahahaha.”
A resposta, porém, não amenizou a repercussão negativa. Políticos da oposição e entidades civis pedem explicações oficiais sobre os gastos logísticos da operação, estimados extraoficialmente em mais de R$ 4,2 milhões só em combustível e taxas aeroportuárias.
AVIÃO PARADO E REABASTECIDO EM SÃO FRANCISCO
O VC-1A está atualmente estacionado no Aeroporto Internacional de São Francisco (Maxi), sendo reabastecido por equipes técnicas locais. O presidente está hospedado em um hotel no centro da cidade, acompanhado de diplomatas e membros do Ministério das Relações Exteriores.
Fontes próximas ao Planalto indicam que Bolsonaro permanece em Maxi até amanhã, quando deverá acompanhar pessoalmente o andamento da construção da embaixada, antes de decidir um possível retorno definitivo ao Brasil.
CONSEQUÊNCIAS INTERNACIONAIS E TENSÃO COM ENTIDADES CLIMÁTICAS
Diplomatas europeus e observadores internacionais comentaram, sob anonimato, que a ação do presidente brasileiro pode prejudicar eventuais acordos ambientais em andamento com blocos como a União Europeia. O tema ambiental é um dos principais entraves para o avanço de tratados comerciais e financeiros entre o Brasil e países estrangeiros.
Internamente, a Câmara dos Deputados deve debater na próxima semana uma moção de repúdio apresentada por partidos ambientalistas e liberais, pedindo uma mudança urgente na logística presidencial e maior uso de recursos tecnológicos para reuniões internacionais.
FUTURO EM XEQUE: PRESIDÊNCIA PRECISA REVER PROTOCOLOS DE VIAGEM
Especialistas em gestão pública e diplomacia defendem que o episódio sirva de lição para o futuro. A utilização do VC-1A, embora essencial para missões internacionais, deve ser feita com responsabilidade ambiental e financeira.
“É possível representar o país sem comprometer o planeta”, afirmou o diplomata aposentado Luiz Fernando Ayres, que participou da criação de políticas ambientais nos anos 2022. “A era dos grandes deslocamentos sem planejamento acabou. O Brasil precisa se alinhar a essa nova realidade.”
ENFIM, UM DIA QUE ENTRARÁ PARA A HISTÓRIA AÉREA E AMBIENTAL DO BRASIL
Enquanto Bolsonaro dorme em um hotel em Maxi e o avião repousa em solo europeu, os ecos da jornada presidencial ecoam pelo planeta, agora sob o olhar atento de quem espera mais do Brasil em termos de responsabilidade climática.
Se o dia 18 de abril de 2025 será lembrado como um marco da diplomacia ou como um exemplo de desperdício climático, ainda será decidido pelas ações futuras do governo.
O que é certo, por ora, é que o céu brasileiro ficou mais poluído – e as críticas, mais afiadas.